A bióloga e cardiologista Barbara Natterson-Horowitz, criadora do conceito de zoobiquidade: estudo das doenças que acometem os animais pode ajudar no tratamento de humanos | Foto: divulgação via G1

Médica diz que animais podem ser a chave para resolver problemas de saúde dos humanos

Há 20 anos, a biólga e cardiologista Barbara Natterson-Horowitz recebeu um telefonema do Zoológico de Los Angels que mudou sua vida. A equipe de veterinários queria que ela examinasse uma gorila que parecia estar sofrendo um infarto. A partir daí, começou a participar de diversas cirurgias com animais e conta: “com exceção de patas e rabos, era o mesmo procedimento utilizado em seres humanos”. Mais: teve o que define como um “chamamento”:

“Animais enfrentam doença cardíaca, câncer de mama, leucemia, diabetes e até transtornos mentais como ansiedade, depressão, automutilação. Por que não estudar melhor esses outros pacientes em busca de uma resposta para os seres humanos?”.

Foi assim que Natterson-Horowitz criou o conceito de zoobiquidade, mostrando que não há fronteiras entre os seres vivos. Em 2012, lançou “Zoobiquity: the astonishing connection between human and animal health” (“Zoobiquidade: o que os animais nos podem ensinar sobre sermos humanos”, em versão portuguesa), em parceria com a jornalista científica Kathryn Bowers. Não se contentou em tornar-se uma autora best-seller e criou uma série de conferências que reúnem médicos, biólogos evolucionistas e veterinários.

“Não podemos pensar nos animais apenas como fontes de transmissão de doenças, ou como cobaias para prevenir uma próxima pandemia. Cavalos podem ter melanoma; orcas, linfoma de Hodgkin; golfinhos, herpes genital. Renas comem cogumelos alucinógenos para sair do seu estado normal e garanhões estressados se automutilam. Temos que investigar a saúde através das lentes da evolução das espécies, para entender melhor as causas das enfermidades e acelerar a descoberta de novos tratamentos”, explica.

Adverte que o fato de a espécie humana se considerar uma exceção no mundo animal representa um risco para nós. Aqui vai um exemplo sobre como nossa empáfia é prejudicial: o estresse que um bicho sente ao ser capturado pode provocar falência cardíaca, num quadro conhecido como miopatia de captura. Ela percebeu que a condição era muito semelhante à da miocardiopatia de Takotsubo – a “síndrome do coração partido” – uma doença miocárdica precipitada por grande estresse emocional ou físico. “Os veterinários já sabiam disso antes dos médicos”, afirma.

O pescoço da girafa pode ser uma pista para tratar a hipertensão, que mata milhões pessoas por ano. Devido à altura das cabeças, que chegam a estar a seis metros do solo, elas têm pressão alta para dar conta do esforço que o coração faz para bombear o sangue para cima, contra a gravidade. No entanto, ao contrário dos seres humanos, essa condição não faz os animais adoecerem. Natterson-Horowitz vem estudando o mecanismo que protege as girafas, que envolve ritmos cardíacos alterados e o armazenamento de sangue, além do ventrículo esquerdo mais espesso, mas sem o enrijecimento dos vasos. “Basta assistir a um vídeo de uma girafa em fuga e você percebe que o problema está resolvido”, observa.

Fonte: G1

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