Pesquisadores da Unesp de Botucatu descobrem nova espécie de bagre na Amazônia

Imparfinis arceae é endêmica do rio Xingu e foi identificada após análise genética e morfológica no Instituto de Biociências.

Um grupo de pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp, em Botucatu, acaba de descrever oficialmente uma nova espécie de bagre encontrada na bacia do rio Xingu, no Mato Grosso. Batizada de Imparfinis arceae, a espécie é resultado de um estudo que combinou análises morfológicas e genéticas — abordagem conhecida como taxonomia integrativa.

A descoberta foi publicada na edição de abril da revista científica Ichthyology & Herpetology, no artigo “Integrative Taxonomy Reveals a New Species of Imparfinis (Siluriformes: Heptapteridae) from the Upper Xingu River Basin”.

Apesar da novidade, os primeiros exemplares do peixe foram coletados ainda em 2012, durante uma expedição coordenada pelo professor Claudio Oliveira, referência nacional em genética de peixes e líder do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do IB-Unesp. Mas só dez anos depois, durante seu pós-doutorado em Botucatu, o ictiólogo Gabriel de Souza da Costa e Silva decidiu revisitar a coleção do laboratório e notou algo curioso: pequenos peixes com uma faixa preta larga na lateral do corpo. A característica chamou atenção e deu início a uma investigação que duraria mais dois anos.

“Existem outras espécies de bagres com essa faixa, mas nenhuma com esse padrão tão amplo. Foi isso que despertou nossa desconfiança de que se tratava de algo novo”, explica Gabriel, que atualmente continua seus estudos sobre peixes neotropicais.

Bagre exclusivo da região amazônica
A nova espécie é endêmica do Alto Xingu, ou seja, só ocorre naquela região específica do bioma amazônico. Os exemplares estudados mediam entre 27mm e 67mm e apresentaram diferenças significativas em relação a outras espécies próximas do mesmo gênero Imparfinis. Além do padrão da faixa lateral, a I. arceae tem olhos menores, cabeça proporcionalmente maior e conta com 39 vértebras, enquanto a espécie mais parecida, I. hasemani, tem 40.

Essas diferenças foram confirmadas com uma análise genética detalhada, feita a partir de fragmentos de DNA extraídos da musculatura dos peixes. O gene marcador COI, utilizado no processo, indicou uma divergência genética superior a 6% em relação a outras espécies do mesmo gênero — o que comprova se tratar de uma nova espécie.

Homenagem e alerta para conservação

O nome Imparfinis arceae é uma homenagem à ictióloga Mariangeles Arce Hernández, diretora do Centro de Biologia Sistemática e Evolução da Universidade Drexel, nos Estados Unidos. Foi no laboratório dela que Gabriel realizou parte de seu pós-doutorado entre 2023 e 2024, período em que finalizou a descrição da nova espécie.

Para o pesquisador, o trabalho reforça a importância de estudar e preservar a biodiversidade brasileira, especialmente na região sul da Amazônia, que sofre com o avanço do desmatamento. “A gente sabe que muitos peixes de água doce são endêmicos, vivem em locais muito específicos. Se o habitat é destruído, eles simplesmente desaparecem. Por isso é essencial conhecer essas espécies para poder lutar pela sua conservação”, afirma.

O estudo também mostra o papel fundamental de instituições como a Unesp de Botucatu na produção de ciência de ponta, com impacto direto na preservação ambiental e no conhecimento da fauna brasileira. A nova espécie é mais um exemplo da biodiversidade riquíssima do país — e também um lembrete de que ainda há muito a ser descoberto nos rios e florestas do Brasil.

Fonte: Jornal da Unesp

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