Falhas na organização são convite para covid-19 em Tóquio 2020

Transporte da comunidade olímpica ainda não atende demanda e causa aglomeração; população não acredita em Jogos seguros

De um lado da cidade, um funcionário entrega um recibo para certificar que o trem chegou atrasado; de outro, na parte olímpica, o transporte destinado demora para chegar e provoca aglomeração. As falhas de organização em Tóquio 2020 se apresentam como um convite ao aumento no número de casos de covid-19, na semana da abertura dos Jogos.

Entrar em um ônibus, ou até táxi, exclusivo para a comunidade olímpica não é um mero luxo. Trata-se de um protocolo sanitário para evitar a possível disseminação do coronavírus entre os cidadãos japoneses e os estrangeiros e vice-versa. Por isso, as autoridades investiram em um aplicativo para reportar o estado de saúde dos credenciados e vetaram o uso de transporte público nos primeiros 14 dias no país.

“As medidas que tomamos são para que o grau de contato entre comunidade internacional e a população japonesa seja muito pequeno. Fazemos questão de manter em altos níveis esse grau de separação”, disse o médico-chefe de uma comissão independente para auxiliar o COI no plano contra a covid-19, Brian McCloskey, em entrevista no centro de imprensa dos Jogos Olímpicos.

Organização dos Jogos Olímpicos tentou evitar contato de estrangeiros com a população local
Organização dos Jogos Olímpicos tentou evitar contato de estrangeiros com a população local

A colaboração internacional pode nem ser das melhores, uma vez que estrangeiros que ainda teriam de cumprir o plano de atividades enviado previamente ao comitê organizador foram vistos em lugares não-olímpicos, o que não é permitido. Mais do que isso, campanhas extraoficial incentivam os locais a denunciar os infratores. Nos mercados de bairro ou nos pontos turísticos, tem muita gente de olho e pronta para denunciar.

No papel, as medidas de segurança funcionariam sem transtornos. O que a organização japonesa, que culturalmente não gosta de imprevistos, não esperava eram que a demanda por táxis fosse tão grande. Esse tipo de transporte, inclusive com 14 viagens pagas por Tóquio 2020, deveria isolar a população, mas demora facilmente mais de meia-hora até que se consiga pedir para esperar por um carro, que pode levar outros 30 minutos.

Os ônibus exclusivos, sempre limpos e confortáveis, são tomados em locais específicos, mas também é preciso aguardar. Nesse caso, a espera sob o sol escaldante pode ser longa e torrar os mais desprevenidos. Desse local pré-determinado, os veículos partem em diferentes direções rumo aos hotéis credenciados. A espera por si só seria aceitável, mas o pior é a contribuição para aglomeração em filas e mais filas.

As medidas são semelhantes às encontradas no aeroporto de Narita, principal porta para a entrada da capital japonesa para participantes dos Jogos Olímpicos. Ali, foi possível ver inclusive a internacionalização da “falha no sistema” o que atrasou o processo de imigração e, adivinhe, provocou filas e aglomeração. Por mais que os passageiros tivessem de apresentar testes negativos para embarcar, não há nenhuma garantia.

Como não há garantia também do número de infectados no evento. O próprio McCloskey evitou repetir o polêmico “risco zero” de Thomas Bach, mas tampouco fez uma previsão de casos aceitáveis até 8 de agosto, data da Cerimônia de Encerramento.

“Impossível prever”, limitou-se o médico.

Fonte: R7

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