Menino de Bauru que desenhou álbum à mão da Copa da Rússia relembra momento: ‘Me deu fé no mundo’

À época, sem dinheiro para completar o álbum do mundial, Pedro Henrique, de Bauru, desenhou todas as páginas e figurinhas

Pedro Henrique Arouca, de Bauru (SP), tinha apenas oito anos quando viu sua vida mudar. Enquanto os principais jogadores do mundo escreviam com os pés belas histórias na Rússia, durante a Copa do Mundo de 2018, Pedro escrevia a sua, ou melhor, desenhava a sua com o que tinha disponível aqui no Brasil.

Assim como toda criança de sua idade, Pedro também queria colecionar as figurinhas do álbum da Copa do Mundo, mas, devido às condições financeiras da família, o desejo precisou ser adaptado.

Driblando as dificuldades e com a criatividade de um verdadeiro camisa 10, o menino decidiu desenhar o próprio álbum e as figurinhas. Feito nos moldes do original, o livro conta com capa, divisão para as seleções e espaço para colar as figurinhas. São exatas 126 figurinhas, todas desenhadas à mão. Traços simples, repletos de detalhes, que somente a criatividade de uma criança seria capaz de reproduzir.

Sua história logo comoveu muitas pessoas e chegou até ao craque Neymar e outros jogadores da seleção, que enviaram um vídeo ao garoto.

À época, o pequeno artista foi parar até em programa de televisão da Rede Globo, no Caldeirão do Huck, e ganhou dezenas de álbuns que até hoje, aos 13 anos, guarda com carinho.

Quatro anos depois, o menino continua utilizando da criatividade para se divertir e sonhar com um futuro que melhore a vida de sua família.

Em entrevista ao temmais.com, Pedro deixou a timidez de lado e contou sobre as memórias do passado e os desejos do futuro, sem abandonar a personalidade que o fez encantar o mundo e comover corações, rememorando com carinho todos os momentos vividos.

“Foi incrível conhecer gente que eu só via por foto ou vídeo. Foi divertido conhecer pessoas novas, lugares novos. Dá pra ver que tem pessoas que ainda são legais e gentis, que pensam nos outros. Me deu fé no mundo”, conta.

Brincadeiras do dia a dia

Atualmente, Pedro usa o tempo livre para criar maquetes de brinquedos e, embora tenha abandonado o curso de desenho, continua com traços de criatividade afiados, já que muitos dos seus brinquedos são desenhos que se transformam em maquetes.

Durante toda a conversa, orgulhosamente, Pedro apresenta as invenções que fazem parte do seu dia a dia. Neste ano, assim como em 2018, ele não pôde comprar as figurinhas em virtude do preço. Desta vez, nem o álbum conseguiu adquirir.

Apesar disso, o futebol continua como uma das grandes paixões e considera impossível não ser grato pelo que viveu em 2018 e pelo álbum que o fez famoso.

‘Esse ano não tive contato nenhum com o álbum. Mas ver anos depois (o álbum feito à mão em 2018) dá um orgulho, saber que por conta disso eu estou hoje fazendo o que eu faço”, relata.

Pedro perdeu o pai aos dois anos e divide com a mãe um apartamento numa habitação popular. Os dois vivem com pouco mais de um salário mínimo que ela recebe trabalhando num supermercado.

Pela casa, as recordações vêm em forma de homenagens e presentes que o menino ganhou, como quadros com a sua caricatura, camisetas recebidas de atletas, uma da seleção brasileira dada pelo Douglas Costa e uma do Chelsea, entregue pelo Willian, ex-Corinthians, e muitos álbuns de figurinhas.

Mesmo longe do curso de desenho, seus traços cuidadosos em retratar seus atletas favoritos, de Mpabbé, Neuer e Harry Kane, mostram a sua evolução técnica na arte.

No entanto, o seu xodó continua sendo o famoso álbum de figurinhas desenhado à mão, guardado com carinho junto aos seus brinquedos. Ele relembra como surgiu a inspiração para a ideia.

“Na minha escola tinha um álbum original aberto, aí no fim do álbum tinha umas figurinhas que eu usava de inspiração. Eu lembro que, na época, quando eu não sabia os nomes dos jogadores das outras seleções, eu colocava qualquer nome”, relembra.

Foi assim que, por exemplo, astros como Pedro, Vidal e Alexis pararam na seleção da Argentina. Mas nada que atrapalhasse a verdadeira diversão do garoto e, claro, o orgulho da mãe Gleice, que cria o filho sozinha desde a infância.


“Ele é muito esforçado, fico muito feliz. Até porque o mundo lá fora é muito difícil para se criar um filho, quem dirá um filho sem pai. Criar um filho sem pai, ganhando um salário de supermercado, não é fácil não. O Pedro é um presente, eu ganhei um presente”, conta.

E o esforço é visto no dia a dia. Os brinquedos criados por Pedro são frutos da dedicação do menino, que sozinho reproduz os objetos utilizando apenas materiais como papel, lápis de desenho e cola. As invenções, lúdicas e dotadas de criatividade, pavimentam hoje o caminho que ele quer seguir na sua vida.
“Eu gosto bastante do que eu faço e treina também a paciência dentro de mim. Comecei a prestar mais atenção, me esforçar mais e comecei a ver que tinha futuro naquilo e estou tentando aprimorar. Penso em fazer engenharia, não sei se engenharia civil ou mecânica, ainda estou na dúvida”, revela.

Ao escutar as palavras do filho, a mãe se comove com as possibilidades para que ele desfrute de uma vida melhor.
“Muito bom ver ele já pensando numa profissão. Saber que uma pessoa como eu, que não tem muito estudo e não tem muita orientação, e ele já tem na cabeça dele o que ele quer pra vida dele, fico muito feliz” diz comovida.

Gleice diz ser conhecida como a ‘mãe do menino da figurinha’ e não nega que, no início, temeu que ele fosse ‘humilhado, por não ter um álbum’, já que as outras crianças tinham e o dele era desenhado.

Após quatro anos, ela confessa que ainda se surpreende com a repercussão dada ao caso. Graças a história, os dois viajaram pela primeira vez de avião, conheceram outro estado e puderam, juntos, desenhar recordações entre mãe e filho para toda a vida.

“Eu virei a mãe do menino da figurinha, é muito engraçado. O pessoal sempre me pergunta como ele tá. A vida voltou ao normal, mas dá pra ver que as pessoas ainda gostam do Pedro, perguntam e se preocupam com ele. Foi uma fase muito incrível”, conta.

Fonte: Tem Mais

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